As altas habilidades e a superdotação se manifestam enquanto uma facilidade de aprendizado em algumas áreas específicas, capacitando o indivíduo a assimilar procedimentos, conceitos e atitudes com maior velocidade. Segundo a Política Nacional de Educação Especial (1994), estudantes com essa característica tendem a demonstrar um desempenho excepcional em áreas como capacidade intelectual geral, liderança, pensamento criativo, aptidão acadêmica específica, talento artístico ou capacidade psicomotora para além da média, sejam estas características isoladas ou combinadas.
Ainda que estimativas indiquem que cerca de 5% da população brasileira, sendo esta mais de 10 milhões de pessoas, possui altas habilidades, o Censo Escolar de 2024, divulgado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), registrou apenas 44 mil estudantes superdotados matriculados em todo o país, evidenciando a diferença entre o potencial identificado do reconhecimento formal de tal.
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A diferença entre altas habilidades e superdotação
Apesar de tanto as altas habilidades, quanto a superdotação, serem termos que se referem a indivíduos com capacidades além do senso comum, essa visão pode gerar estigmas que dificultam a compreensão e o apoio adequado a ser prestado para estes indivíduos. Visando esclarecer a diferença, o Ministério da Educação (MEC) estabeleceu uma diretriz importante, sendo:
- Altas habilidades (AH): são caracterizadas por aspectos do desenvolvimento intelectual, significativamente influenciados e aprimorados pelo ambiente em que o indivíduo está inserido, abrangendo o contexto familiar, escolar e cultural. Isso implica que o potencial de um indivíduo com altas habilidades pode ser ainda mais explorado e enriquecido por estímulos e oportunidades ofertadas por seu entorno.
- Superdotação (SD): se refere aos aspectos mais intrínsecos e genéricos da inteligência e da personalidade, onde indivíduos frequentemente exibem características intelectuais marcantes, tais como velocidade no raciocínio, flexibilidade de pensamento para abordar problemas de diferentes ângulos, fluência de ideias, excelente capacidade de memorização e grande habilidade para resolver problemas complexos. Embora um QI alto seja frequentemente associado à superdotação, essa métrica se limita, exclusivamente, à habilidade acadêmica.
Ainda segundo apontamentos, a Política Nacional de Educação Especial, de 2008, expande essa visão, identificando pessoas com altas habilidades ou superdotação como aquelas que demonstram um potencial elevado, de forma isolada ou combinada, nas áreas acadêmicas, intelectual e de liderança, além de apresentarem uma criatividade elevada e grande envolvimento na aprendizagem e na realização de tarefas de seu interesse.
Como identificar crianças superdotadas ou com altas habilidades?
Identificar crianças com altas habilidades ou superdotação exige sensibilidade, em especial pelas condições não implicarem excelência universal, além de poderem coexistir com transtornos de neurodesenvolvimento e de aprendizagem, tais como o autismo e a dislexia, levando a frequentes confusões com hiperatividade, déficit de atenção ou distúrbios comportamentais.
Essa dificuldade de identificação pode prejudicar significativamente o desempenho acadêmico e o desenvolvimento pessoal de crianças com SD/AH, entretanto, algumas características podem ser indicativos, como por exemplo:
- Perfeccionismo;
- Aprendizado rápido;
- Questionamento de regras;
- Alta capacidade de solucionar problemas;
- Alta sensibilidade emocional ou sensorial;
- Intensa concentração em áreas de interesse (hiperfoco);
- Habilidade de conectar ideias aparentemente desconexas.
Quais as principais dificuldades de crianças superdotadas?
Crianças superdotadas frequentemente enfrentam grandes desafios no ambiente escolar, em especial quando ainda não possuem diagnósticos firmados. O currículo escolar, quando desprovido de estímulos intelectuais adequados, pode gerar tédio e desinteresse no estudante que, por muitas vezes, anseia por abordagens de aprendizado mais maleáveis, minimizando, assim, sua motivação. Além disso, as disparidades em seus interesses e habilidades podem dificultar o desenvolvimento de interações sociais, conduzindo ao isolamento e à dificuldade em construir amizades sólidas com colegas da mesma faixa etária.
Outra característica comum, apresentada por crianças superdotadas, é a tendência ao perfeccionismo, onde o estudante passa a impor sobre si padrões elevados que podem resultar em frustração. Sua sensibilidade emocional tende a deixar o aluno mais suscetível a reações intensas diante situações com alta carga emocional, podendo fazer com que se sinta oprimido pelas expectativas alheias e pela pressão constante em se sobressair. Além disso, as diferenças nos ritmos de aprendizagem apresentadas por crianças com superdotação, em comparativo aos colegas, podem gerar uma pressão extra e aumentar a ansiedade nestes indivíduos.
Entretanto, muitos dos desafios podem ser resolvidos com o apoio educacional e emocional adequado, onde, por meio de avaliações detalhadas, o psicopedagogo consegue identificar as habilidades e necessidades educacionais específicas da criança superdotada, possibilitando a detecção precoce de dificuldades como problemas de aprendizagem ou desafios emocionais que possam impactar de forma direta ou indireta em seu desenvolvimento.
A partir da avaliação psicopedagógica, é possível desenvolver planos de intervenção personalizados, abrangendo tanto as necessidades educacionais, quanto as emocionais, da criança, criando estratégias adaptativas para lidar com suas dificuldades particulares. Além disso, o ensino de estratégias de aprendizagem, tais como organização, gerenciamento do tempo e métodos de estudo, juntamente com o incentivo à autonomia e à autorregulação na busca do conhecimento, são abordagens de grande relevância no processo de acompanhamento psicopedagógico.
Conheça algumas atividades para crianças com AH/SD
Para auxiliar crianças com altas habilidades e superdotação, incentivando e nutrindo seu potencial, é fundamental ofertar atividades que estimulem suas habilidades, indo além do currículo acadêmico comum. Ao proporcionar desafios intelectuais significativos e estímulos direcionados ao desenvolvimentos de suas habilidades específicas, passa a ser possível explorar talentos singulares e expandir o potencial criativo e cognitivo da criança. Confira algumas atividades psicopedagógicas especializadas:
1. Clubes de estudos específicos
Com o auxílio familiar, o psicopedagogo consegue estimular a criança com AH/SD para que participe de grupos que irão explorar temas avançados em áreas que ela tenha alto potencial de aprendizagem. Além disso, o profissional pode encorajar a criança a definir um tópico de interesse, onde deverá realizar um projeto de pesquisa aprofundado no tema. Essas atividades atuarão no desenvolvimento de habilidades de investigação, análise crítica e apresentação.
2. Desafios de resolução de problemas
Ao proporcionar atividades que envolvam desafios de resolução de problemas complexos, tais como jogos de raciocínio lógico e estratégico, a exemplo de xadrez, quebra-cabeças e jogos de tabuleiro, o profissional consegue incentivar a aplicação prática do conhecimento na criança, fazendo com que se sinta mais estimulada e desafiada.
3. Oficinas criativas
É comum crianças com altas habilidades e superdotação se sentirem desmotivadas no ambiente escolar, portanto, ao oferecer oportunidades para explorar e expressar a criatividade por meio de práticas artísticas, como pintura, escultura, música ou escrita, a criança encontre um ambiente com maior liberdade, onde suas aptidões artísticas poderão ser melhor exploradas.
4. Atividades de aprendizado autônomo
O psicopedagogo pode fornecer materiais e recursos para que a criança desenvolva um aprendizado autônomo, possibilitando que explore áreas de interesse por conta própria. Além disso, ao dialogar com pais e professores, orientando que encorajem a exploração de tópicos interdisciplinares, é possível promover uma compreensão abrangente, que será responsável por prender a atenção da criança em outras áreas para além de seu hiperfoco.
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