A clínica do excesso: atuação, impulsividade e a escuta psicanalítica hoje

A clínica do excesso: atuação, impulsividade e a escuta psicanalítica hoje

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A clínica psicanalítica contemporânea se depara com desafios de alta complexidade que transcendem os sintomas clássicos da neurose. Assim, manifestações de sofrimento psíquico, muitas vezes, não se apresentam sob a forma de sintomas verbalizáveis, mas sim por meio de impulsividade, atuações e descargas que colocam em voga os paradigmas estabelecidos.
 
 
Tal cenário tem exigido cada vez mais por uma reformulação na escuta psicanalítica, buscando compreender as novas configurações do mal-estar e as formas singulares pelas quais o sujeito expressa sua angústia no mundo atual.
 
Se aprofunde nos novos moldes da clínica psicanalítica.
 

Do sintoma ao ato: uma clínica marcada pelo excesso

A transição do sintoma clássico, ancorado na neurose, para as manifestações contemporâneas de sofrimento psíquico, é um marco distintivo na clínica psicanalítica, onde, anteriormente, a linguagem e o simbolismo assumiam o papel de principais veículos de expressão do inconsciente e, atualmente, a impulsividade, a descarga e o ato ganham proeminência.
 
Já a pulsão, muitas vezes, encontra-se menos simbolizada e mais atuada, desafiando o analista a ir além da interpretação verbal para acessar as camadas mais profundas do psiquismo.
 
Neste contexto, a clínica do excesso tende a se impor, sendo caracterizada por fenômenos, tais como compulsões, adições, violências e automutilações, nos quais o corpo e a ação passam a se tornar o palco da expressão do desamparo.
 
O que irá se manifestar não será apenas um conteúdo neurótico, mas a própria força da pulsão em sua dimensão bruta, materializada, impedindo o sujeito a condutas que buscam uma descarga imediata, ainda que destrutiva.
 
O papel da clínica psicanalítica
A escuta psicanalítica é, então, demandada a reconhecer essas novas formas de comunicação do inconsciente e essa mudança pragmática irá exigir do analista um novo modo de escuta que não se limita à decifração de palavras, perpassando o acolhimento e a atribuição de significância às atuações e aos atos impulsivos.
 
Assim, irá se tratar de uma clínica que se volta para o “não-dito”, para o que irrompe na experiência do sujeito de forma contundente e, muitas vezes, sem mediação simbólica. A tarefa do psicanalista, considerando este cenário, será o de sustentar a presença e a função analítica, permitindo que a repetição se transforme em rememoração e que o ato se articule em sentido.
 
→ Conheça alguns dos desafios da clínica psicanalítica contemporânea
 
 

A clínica da atuação: entre acting-out e passagem ao ato

No campo da psicanálise, a distinção entre acting-out e passagem ao ato, é fundamental para a compreensão das manifestações impulsivas, onde, segundo Freud e Lacan, o acting-out seria uma atuação que ocorre no campo da transferência, direcionada ao analista ou à situação analítica, buscando comunicar algo que não pode ser dito em palavras, seria como um apelo, uma mensagem cifrada que o sujeito endereça ao outro, mesmo que de forma inconsciente, na tentativa de provocar uma resposta ou uma interpretação.
 
 
A passagem ao ato, por sua vez, caracteriza-se por uma ruptura radical com o laço social e com a cena analítica, ocorrendo uma descarga pulsional que leva o sujeito a um ato impulsivo e, muitas vezes, violento, sem a dimensão, endereçamento ou apelo presente no acting-out.
 
Se trata de um momento de desamparo extremo, onde o sujeito parece ser desconectado de si, em uma experiência de fragmentação e irrupção do real, tendo como exemplos clínicos condutas de risco extremas, agressões e tentativas de suicídio, onde a função simbólica se encontra drasticamente comprometida.
 
Como a escuta psicanalítica pode ajudar?
Considerando tal fenômeno, a escuta psicanalítica se torna um desafio ético e técnico, onde no caso do action-out, o analista passa a ser convocado a sustentar a transferência, interpretando a atuação como forma de linguagem.
 
Já na passagem ao ato, a intervenção demanda uma abordagem mais ampla, que considere a urgência e o risco iminente, buscando a restauração mínima do laço social para que o sujeito consiga, posteriormente, retomar a possibilidade de simbolização em um espaço terapêutico.
 

Escutar o ato: possibilidades éticas da psicanálise hoje

A posição do analista, frente às manifestações que não se articulam pela fala, mas pelo corpo ou pela impulsividade, exige uma escuta diferenciada, pois o grande desafio ético reside em não se pautar na moralização ou no silenciamento do sofrimento do sujeito.
 
Como alternativa, o analista deve sustentar um espaço de acolhimento e escuta para além do que é dito, permitindo que o sujeito simbolize aquilo que, até então, apenas atuava, tornando a clínica psicanalítica um espaço capaz de oferecer a possibilidade de construção de um sentido onde aparenta somente haver caos e descarga.
 
Para que isso seja possível, o psicanalista deve estar apto a compreender as lógicas inconscientes por trás do ato, mesmo quando este se apresenta como algo irracional ou destrutivo. A escuta do ato irá implicar no reconhecimento da função que ele cumpre para o sujeito, ainda que seja uma solução patológica para um conflito difícil de suportar.
 
Será um trabalho de abertura para o inusitado, para o inesperado, que rompe com os modelos pré-estabelecidos e que irá exigir do analista um processo constante de reflexão sobre sua própria prática e seus próprios impasses.
 
 
Neste contexto, a psicanálise se mostra como uma possibilidade de intervenção nos impasses da subjetividade contemporânea, oferecendo um espaço voltado para a simbolização do que atua, e possibilitando ao sofrimento psíquico que encontre outros caminhos de elaboração.
 
A clínica do excesso demanda uma formação sólida e um constante aprimoramento por parte do analista, para que ele possa acolher as novas formas de angústia e consiga contribuir para a construção de um futuro mais simbólicos para o sujeito.
 
 

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