Psicanálise e saúde mental: interfaces com a psicologia hospitalar e a psiquiatria
Diante de um cenário onde o sofrimento psíquico assume novas formas, a integração entre o saber psicanalítico, a psicologia hospitalar e a psiquiatria torna-se um requisito fundamental para o tratamento eficaz, onde compreender essas interfaces não se resume a somar técnicas, mas sim a sustentar uma ética de cuidado que considere a singularidade do sujeito em contextos muitas vezes regidos pela generalização protocolar e pela urgência institucional.
Nesse contexto, é importante que o psicólogo saiba operar com uma escuta qualificada que atravesse o discurso médico hegemônico, permitindo que a angústia do paciente encontre vias de elaboração.
Continue a leitura para saber mais sobre a interação entre a psicanálise e a psiquiatria.
As tensões entre psicanálise e psiquiatria
A relação entre psicanálise e psiquiatria é historicamente marcada por divergências epistemológicas que impactam diretamente o manejo clínico. Essa disparidade se revela, sobretudo, no contraponto entre a busca pela objetividade diagnóstica e a investigação da verdade subjetiva que subjaz ao sintoma.
A psiquiatria se apoia no modelo biomédico, estruturando-se em torno de classificações diagnósticas padronizadas, como o DSM e CID, sendo seu objetivo central o de identificação da patologia e a supressão do sintoma, muitas vezes reduzindo o sofrimento a um desequilíbrio neuroquímico.
Em contrapartida, a psicanálise propõe uma direção oposta, uma vez que, em vez de silenciar o sintoma, busca-se compreendê-lo, o enxergando enquanto mensagem enigmática do sujeito.
Os laudos psiquiátricos e as categorias diagnósticas correm o risco de objetificar o indivíduo, desconsiderando a subjetividade implicada na formação do sintoma, onde Foucault em ‘História da Loucura’ (1972) alertava sobre como o saber médico, ao longo da história, isolou a loucura e a transformou em objeto de estudo, distanciando-se da verdade do sujeito que sofre.
A psicanálise, entretanto, não nega a importância da estabilização medicamentosa em quadros graves, mas insiste que o tratamento não se encerra na química. Há, porém, a necessidade de recordar e elaborar processos que exigem tempo e escuta, elementos frequentemente escassos na lógica de produtividade dos serviços de saúde tradicionais.
Psicanálise na psicologia hospitalar
A psicologia hospitalar opera em um terreno onde a tecnologia médica e a luta pela sobrevivência física predominam, sendo o paciente frequentemente reduzido a sua doença. Assim, a intervenção psicanalítica nesse ambiente em muito se difere do consultório.
Em hospitais, ambulatórios e unidades de internação, as intervenções tornam-se pontuais, visando resgatar a subjetividade do paciente diante do real do corpo e da doença, onde o psicólogo se responsabiliza por facilitar a expressão da angústia, do medo e das fantasias que acompanham o adoecimento.
Psicanálise como ética no campo da saúde mental
Para além dos consultórios e leitos, a psicanálise se estabelece como uma ética no cuidado em saúde mental pública e suplementar. A Reforma Psiquiátrica Brasileira, por exemplo, trouxe a necessidade de substituir o modelo manicomial por dispositivos abertos e territoriais.
A psicanálise nesse campo não busca adaptar o indivíduo à norma social, mas sustentar sua singularidade dentro dos dispositivos coletivos, como oficinas terapêuticas e grupos operativos, reforçando a importância da gestão de serviços de saúde mental em considerar a subjetividade dos pacientes e equipes, evitando a burocratização do cuidado.
Portanto, a ética da psicanálise na saúde mental consiste em não recuar diante do sofrimento intenso, mas trata-se de manter a ideia de que, mesmo no delírio ou na crise, existe um sujeito tentando se preservar.
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