Por que Jung rompeu com Freud?

Por que Jung rompeu com Freud?

image


A história da psicologia como se conhece hoje, é marcada pelo mais notável e dramático rompimento intelectual, ocorrida entre Sigmund Freud e Carl Jung. Inicialmente, a relação entre ambos se pautava em profunda admiração e colaboração, onde Freud via em Jung o seu herdeiro intelectual, o sucessor capaz de dar continuidade e expandir a psicanálise, já Jung, por sua vez, reconhecia em Freud um mentor e uma figura central para o desenvolvimento de suas próprias ideias.
 
No entanto, as diferenças conceituais e pessoais se aprofundaram com o tempo, culminando em um rompimento definitivo que mudou o rumo da psicologia analítica e da psicanálise, marcando o fim de uma amizade, porém o nascimento de uma nova escola de pensamento.
 
Continue a leitura para entender quais foram os motivos de Jung romper com Freud.
 

Diferenças teóricas fundamentais

O rompimento entre Freud e Jung se deu por um único motivo por uma série de discordâncias teóricas que, com o tempo, se tornaram irreconciliáveis, envolvendo a natureza da libido, a estrutura do inconsciente e a visão de mundo.
 
Para Freud, a psicanálise tinha uma base sólida e universal. Para Jung, a disciplina precisava de uma abordagem mais ampla, que considerasse a totalidade da experiência humana. Tais diferenças foram o alicerce para a criação da psicologia analítica, um campo distinto que, por muitos anos, se desenvolveu paralelamente à psicanálise.
 
 
Libido: energia sexual ou vida psíquica mais ampla?
A primeira grande divergência entre os dois teóricos foi a conceituação da libido, pois para o pai da psicanálise, a libido compunha uma energia essencialmente sexual.
 
A teoria psicanalítica freudiana postula que o impulso sexual é a força motriz por trás de grande parte do comportamento humano, e sua repressão ou expressão molda a personalidade, portanto, a sexualidade, desde a infância, desempenharia um papel fundamental no desenvolvimento psíquico.
 
 
Jung, por outro lado, expandiu o conceito de libido para além do campo sexual, onde em sua obra seminal, ‘Símbolos da Transformação’ (1912), propôs a libido como uma “energia psíquica” geral, que alimentaria não apenas o desejo sexual, mas também a criatividade, a espiritualidade, o desenvolvimento pessoal e outras manifestações da vida.
 
Inconsciente pessoal vs. inconsciente coletivo
Outra grande área de discordância foi a estrutura do inconsciente, pois para Freud, este atua enquanto um repositório de memórias reprimidas, traumas e desejos que a mente consciente rejeitou, se referindo, principalmente, a experiências individuais de vida, sendo uma "lixeira" para tudo que a mente consciente não pode processar ou aceitar.
 
Em contraste, Jung defendia que o inconsciente não abriga apenas os complexos pessoais reprimidos, tendo postulado a existência de um nível mais profundo e universal, que viria a ser o inconsciente coletivo, compartilhado por toda a humanidade, contendo arquétipos universais, como a Grande Mãe, o Herói e a Sombra.
 
 
O inconsciente coletivo, na visão de Carl Jung, expressaria padrões de comportamento e imagens que são comuns a todas as culturas, porém, Freud rejeitou essa abordagem como "não científica" e excessivamente especulativa, intensificando as tensões.
 

Metodologia e visão de ciência

As diferenças teóricas também se refletiram em suas abordagens metodológicas e visões de ciência, uma vez que Jung, ao longo de sua trajetória, acusou Freud de dogmatismo, e que este era resistente a questionamentos e interpretações alternativas, algo que Jung considerava prejudicial para a investigação científica. Para Jung, a ciência não poderia ser um sistema fechado de ideias, mas sim um processo aberto de exploração.
 
A metodologia de Carl Jung admitia uma gama mais ampla de fatores na prática psicológica, valorizando os elementos religiosos, simbólicos, filosóficos e espirituais, que Freud, em sua abordagem relativamente materialista e ateia, via com ceticismo. Jung acreditava que a psicologia deveria ser uma disciplina capaz de abranger a totalidade da experiência humana, incluindo os fenômenos psíquicos que transcendiam o materialismo.
 
A visão de ciência de Freud era mais alinhada com o positivismo do século XIX, buscando causalidades lineares e explicações claras, e, em contrapartida, Jung abraçou uma perspectiva mais holística e fenomenológica, considerando o simbolismo e a sincronicidade como elementos importantes para a compreensão da psique.
 
 

Desgaste pessoal e “gesto de Kreuzlingen”

O rompimento entre Freud e Jung não foi apenas ideológico, mas também pessoal, como um ocorrido relatado, onde, em uma viagem, Freud fez uma visita ao psiquiatra Ludwig Binswanger em Kreuzlingen, mas não visitou Jung em Zurique, que ficava a poucos quilômetros de distância. Jung interpretou o ato como um sinal de desconsideração pessoal e o evento, que se tornou conhecido como o “gesto de Kreuzlingen”, aprofundou as feridas na relação.
 
Logo depois, em 1912, Jung publicou ‘Transformações e Símbolos da Libido’, onde expôs suas ideias divergentes, desafiando a ortodoxia freudiana sobre a libido e o inconsciente. Tal obra foi compreendida por Freud como um ato de heresia, acelerando a ruptura entre mestre e pupilo, e tornando a reconciliação impossível.
 
A separação de Freud e Jung marcou o fim de uma era e o início de outra para o desenvolvimento da psicologia e, a partir desse momento, a psicanálise freudiana e a psicologia analítica junguiana seguiram caminhos distintos, cada uma construindo sua própria base teórica e prática clínica.
 
 

Aprenda mais sobre Carl Jung e desvende seu legado

Se você busca se aprofundar na psicologia analítica e nas ideias de Carl Jung, a Universidade Municipal de São Caetano do Sul oferece a oportunidade ideal para você na Pós-graduação em Psicologia Analitica: Abordagem Junguiana
 
Aqui, você tem a oportunidade de aprimorar sua prática clínica e se aprofundar ainda mais na teoria junguiana, considerando conceitos como arquétipos, individuação e imaginação ativa.
 
Em um ensino sólido e atualizado, o curso de Psicologia Analítica da Pós USCS atende a modalidade online, com aulas ao vivo, oferecendo a facilidade e flexibilidade que você precisa para manter sua rotina de estudos alinhada com suas demandas cotidianas, podendo estudar quando e onde desejar.
 
Com duração de 19 meses e 380 horas de carga total, a especialização conta com um corpo docente de renome, com qualidade reconhecida e aprovada pelo MEC.
 
 

Aprenda gratuitamente a desvendar a psique humana em sua totalidade

No conteúdo do curso ‘Desvende a Psique Humana com Jung’, desenvolvido pela Pós USCS, você terá a oportunidade de aprender com muita teoria e prática sobre as bases da psicologia junguiana em um conteúdo 100% online e 100% gratuito.
 
Em um ensino dividido em seis horas, esse material é voltado para psicólogos e interessados no legado de Carl Jung, que desejam se aprofundar nos fundamentos da psicologia analítica.
 
Ao final, receba um certificado de conclusão.
(11) 2714-5699