Falta de estrutura para realização do teste do olhinho preocupa médicos

Falta de estrutura para realização do teste do olhinho preocupa médicos

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A comunidade médica está em alerta quanto à falta de equipamentos necessários para acompanhar a saúde ocular de bebês detectados com microcefalia ou cujas mães podem ter tido contato com o vírus zika.

No Nordeste há apenas um equipamento capaz de documentar a evolução desses bebês, sendo considerado mais um desafio nessa região endêmica. A fundação Altino Ventura, no Recife, é a única que possui o RetCam, equipamento capaz de mapear a retina, permitindo uma avaliação com imagens fotográficas de alta resolução e um diagnóstico mais preciso de diversas patologias oculares.

 A falta de estrutura pode comprometer o acompanhamento e a evolução do quadro clinico ocular dos bebês, uma vez que já foi verificado por especialistas que crianças diagnosticadas com microcefalia apresentam problemas na retina e no nervo óptico. Possuir equipamentos para averiguar os efeitos do vírus zika é crucial nesse momento de atenção e combate ao mosquito transmissor.

Na opinião do pesquisador Dr. Rubens Belfort Junior, oftalmologista e professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que está liderando um grupo de pesquisadores sobre o impacto do vírus zika na região ocular dos bebês, a região Nordeste precisa de pelo menos 20 equipamentos para auxiliar o acompanhamento dos casos.

Ele ressalta que o teste do olhinho, um exame de rotina essencial que deve ser feito em recém-nascidos, apesar de muito importante na detecção de vários problemas oculares, não ajuda a diagnosticar as alterações oculares provocadas pelo vírus zika: "É preciso fazer um exame chamado oftalmoscopia com a pupila dilatada para observar se há lesões na retina e no nervo óptico. O teste do olhinho detecta outros tipos de alteração", afirmou Belfort.

Existe uma necessidade muito urgente de se desenvolver dispositivos mais simples e baratos para o exame de fundo de olho, como smartphones adaptados, por exemplo, ressaltou o especialista.

Belfort já publicou artigos nas revistas médicas The Lancet, JAMA Ophthalmology e Arquivos Brasileiros de Oftalmologia, ao lado de especialistas de outras instituições, como a Fundação Altino Ventura, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e o Hospital Geral Roberto Santos (Salvador-BA), descrevendo as alterações oculares causadas pelo vírus zika. 

O especialista afirmou que dados iniciais apontam que ao menos 30% ou 40% dos bebês diagnosticados com microcefalia podem ter problemas oftalmológicos. Isso enfatiza a urgente necessidade de equipamentos para acompanhamento dos casos.
Em um simpósio organizado pela Unifesp no final de fevereiro, oftalmologistas de todo o Brasil se reuniram para discutir a emergência dos problemas causados pelo vírus. O evento foi importante para que os especialistas chegassem ao consenso de que é necessário alertar pediatras de que todo bebê com mãe que teve zika ou um caso suspeito deve fazer exames oftalmológicos ainda no berçário, além de ter promovido a troca de experiência entre os profissionais sobre os pacientes assistidos com alterações oculares. “O  interessante é que essas alterações que descrevemos em Recife e Salvador são exatamente aquelas encontradas em outros estados, mostrando uma grande disseminação da doença em todas as regiões", considerou Belfort.

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