A clínica psicanalítica na instituição: escuta possível ou impossibilidade?

A clínica psicanalítica na instituição: escuta possível ou impossibilidade?

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A clínica psicanalítica é um método de investigação e tratamento que se diferencia pela sua abordagem única sobre o sofrimento psíquico. Nesta prática, a compreensão do inconsciente enquanto um campo de desejos, memórias e fantasias recalcadas, é imprescindível pois ele irá atuar ativamente na vida do sujeito.
 
Assim, a psicanálise não busca apenas a eliminação de sintomas, mas a compreensão de sua origem e significado. Nesse processo, a escuta clínica psicanalítica desempenha um papel fundamental, constituindo-se como um instrumento principal do analista.
 
 
Por meio da escuta clínica, o profissional consegue acolher a fala do paciente em sua singularidade, sem julgamentos ou pressupostos, permitindo ao sujeito que compartilhe suas verdades subjetivas.
 
Continue a leitura para entender o papel da escuta clínica na instituição.
 

A instituição como campo de atravessamentos: entre normas e singularidades

O trabalho em instituições, como hospitais, Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), ou mesmo escolas, coloca frequentemente o profissional de psicanálise diante de um desafio complexo, em especial pois tais espaços operarem a partir de lógicas normativas e burocráticas, estabelecendo protocolos, metas e prazos que visam a organização e a eficiência.
 
Essa estrutura, por vezes rígida, pode entrar em conflito direto com o princípio da clínica psicanalítica, que valoriza a singularidade de cada indivíduo e o ritmo próprio de seus processos. A escuta psicanalítica em contexto institucional, portanto, exige do profissional uma navegação constante entre a necessidade de adesão às regras da instituição e a sustentação de um espaço onde a singularidade do sujeito possa emergir.
 
Tal tensão se manifesta, por exemplo, quando o imperativo de diagnóstico rápido e encaminhamento confronta a escuta minuciosa que a psicanálise propõe. Em um CAPS, por exemplo, onde a demanda é alta e o tempo é limitado, a pressão para entregar resultados benéficos em um curto prazo pode sobrepor-se à paciência requerida para que o sujeito articule seu sofrimento.
 
Nesses momentos, a capacidade do analista de sustentar o que o Jacques Lacan chamou de “desejo do analista”, isto é, um desejo não de cura, mas de manter o espaço para que a verdade do sujeito se manifeste, é colocado à prova.
 
Desafios e soluções da atuação psicanalítica em instituições
O desafio de atuar em instituições leva o profissional a se perguntar sobre a própria sustentabilidade de sua prática, onde é suscitado o questionamento sobre a possibilidade em manter um posicionamento ético e psicanalítico em um ambiente que, por sua natureza, busca a normatização.
 
Para que isso seja possível, o profissional deve reinventar sua atuação, encontrando brechas na lógica institucional, para que consiga inserir a escuta e a singularidade, atuando como um elemento de desorganização criativa que não ignora as regras, mas as subverte em prol do paciente.
 
→ Conheça outros desafios da clínica psicanalítica contemporânea
 

A escuta psicanalítica como gesto ético: sustentar a transferência no coletivo

Mesmo diante de um ambiente institucional com suas exigências, a escuta psicanalítica pode ser um gesto ético e político. A função do analista nesse contexto não se resume a seguir protocolos ou a curar, mas a se posicionar como um interlocutor que acolhe a fala do sujeito em sua verdade, por mais desconfortável que ela seja.
 
Essa ética da escuta se mantém especialmente fundamental para o processo psicanalítico, pois permite que o sujeito não seja reduzido a um diagnóstico ou a um número, mas reconhecido em sua complexidade e singularidade.
 
A transferência, conceito central na psicanálise, também adquire nuances particulares no ambiente institucional. Em vez de se manifestar apenas na relação de um a um, ela se espalha, se difunde e articula no coletivo.
 
Por exemplo, em um grupo terapêutico em um abrigo, o analista pode se deparar com a transferência que se dirige não a ele de forma individual, mas ao próprio grupo ou à instituição, vista ora como provedora de salvação, ora como opressora.
 
Nesse cenário, o trabalho do profissional consiste em ler e intervir sobre esses impasses transferenciais, abrindo espaço para que o sofrimento e os conflitos ali presentes possam ser elaborados.
 
Os impasses transferenciais da intervenção clínica com grupos
Já intervenções clínicas com grupos, podem ocorrer por meio de breves falas que pontuam um tema comum, quebrando a homogeneidade do grupo para destacar a singularidade de cada um. O profissional pode destacar uma palavra ou frase de um sujeito que ressoa com os demais, fomentando uma reflexão coletiva que não normatiza, mas que abre novas possibilidades de sentido para cada participante.
 
Portanto, é possível afirmar que a escuta psicanalítica no coletivo atua na superfície, permitindo que o sujeito se constitua mesmo em meio a um contexto de precariedade.
 

Invenções clínicas na instituição: entre o impossível e o necessário

Apesar das limitações institucionais, a clínica psicanalítica na instituição não é uma impossibilidade, mas uma constante intervenção, onde psicanalistas têm desenvolvido estratégias criativas para sustentar sua prática, demonstrando que a ética da escuta e o reconhecimento do sujeito inconsciente podem coexistir com as normas e regras.
 
A escuta se torna possível a partir de um posicionamento ético firme, onde o profissional reconhece que o sujeito do inconsciente está presente, mesmo que a fala seja breve, ou que mantenha um encontro pontual.
 
A prática psicanalítica em instituições exige uma formação sólida e contínua, que vá além dos pressupostos teóricos, exigindo de seus profissionais segurança para atuação em contextos complexos, devendo estes aprender a lidar com as pressões institucionais sem que abandonem a ética que fundamenta a psicanálise.
 
 

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