
Antes da revolução industrial, a maioria das sociedades vivia num tempo que era regido principalmente pela natureza, acompanhava-se o tempo da colheita, o tempo do sol e da lua, o tempo dos outros animais dos quais dependíamos e, espacialmente, estávamos limitados ao espaço pela velocidade máxima que um homem, animal, ou meio de transporte da época permitia. Então, para uma notícia chegar da Europa até o Brasil, por exemplo, poderia levar até 3 meses e, quando a notícia chegava, ela era narrada por palavras ou lida com letras. Raramente havia imagens.
Deixamos esse tempo e espaço da natureza quando viemos morar nas cidades. Aqui o ritmo de vida acompanha outras noções: o ritmo de produção das indústrias, o ritmo das instituições governamentais, o ritmo do consumo, o ritmo do salário, e por aí vai.
As tecnologias e principalmente o virtual (incluindo as redes sociais) tiveram um papel fundamental nisso. Hoje, uma frase dita pelo Kim Jong-um, na Coréia do Norte e respondida por Donald Trump no EUA, pode ser escutada no Brasil em tempo real.
Além disso, você não precisa ser presidente do Brasil ou analista político para tecer qualquer comentário sobre o que você pensa ou sente sobre este fato. Basta postar livremente nas redes sociais. É por isso que dizemos que na sociedade atual houve uma quebra da tradição.
O conhecimento e o comportamento não precisam estar fixados em um lugar social. Você não precisa ser o Xamã de uma tribo para tentar alcançar a verdade sobre a chuva, não precisa ser Padre para construir sua religiosidade, nem analista político para ter uma opinião sobre a disputa entre Trump e Kim Jong-un. O conhecimento e os estilos de vida deixaram de estar fixados dentro de um lugar social, como aconteceu em outros tempos e lugares da história onde você nascia e morria numa mesma posição social: nasce ferreiro, morre ferreiro. Seu filho seria ferreiro e você não tinha espaço nem mobilidade social ou de conhecimento. Tempos bem diferentes do nosso.
Os tempos mudaram e também mudaram os modos de sofrimento do ser humano. Se antes se sofria muito mais por conta de toda a repressão que a tradição representava, hoje se sofre por outros motivos.
Quando Freud começou a clinicar como médico e neurologista ele encontrou pacientes que sofriam basicamente de repressão sexual ou de repressão na agressividade. Eram pessoas que não encontram escoamento para estas questões e que acabavam expressando seu sofrimento, digamos, simbolicamente.
Apresentavam paralisias de braços ou pernas, anestesias, crises epilépticas, cegueiras, dores no corpo, pensamentos repetitivos (obsessivos), comportamentos ritualísticos (compulsivos), dificuldades sexuais e problemas nos relacionamentos, que dificultavam muito o envolvimento com outras pessoas a longo prazo. O conhecimento médico da época não dava conta de ajudar estes pacientes num sentido de amenizar o sofrimento e alavancar a vida social e pessoal, auxiliando-as a tornarem-se mais espontâneas, criativas e responsáveis. Justamente porque o sofrimento não estava em questões médicas ou do corpo, mas em questões psíquicas.
Foi isso que Freud observou em cada caso que se dispôs a atender. Então Freud teve que inventar um novo mecanismo clínico, teórico e de pesquisa para dar conta desses fenômenos psíquicos. Ele chamou esta descoberta de Psicanálise.