
Os contos de fadas são narrativas ancestrais que perpassam culturas e gerações ao redor do mundo, transcendendo o entretenimento infantil ao se revelar como mapas para a compreensão aprofundada da psique humana e do inconsciente coletivo, como bem apontado pela analista Marie von Franz.
Munido de simbolismos e arquétipos universais, o imaginário dos contos, quando aplicados à Arteterapia, se configura como um caminho em potencial para o acesso ao mundo interior, capaz de facilitar a jornada de autoconhecimento
Continue a leitura para saber mais sobre o papel dos contos de fada na Arteterapia.
Von Franz e a função simbólica dos contos
Discípula direta de Carl Gustav Jung, Marie-Louise von Franz marcou sua relevância no universo da Psicologia Analítica através de sua contribuição para o trabalho do psicólogo, traduzindo textos sobre alquimia medieval. Atualmente, a analista é considerada referência nos estudos psicológicos dos contos de fadas, tendo publicado diversos livros sobre o assunto, sendo exemplares ‘A Interpretação dos Contos de Fada’ (1970) e ‘A Sombra e o Mal nos Contos de Fada’ (1974).
Dedicando-se aos estudos simbólicos presentes nos contos de fadas, Franz mantinha a visão de que estes seriam a mais pura e simples forma de expressão do processo psíquico e do inconsciente coletivo, considerando os contos uma das ferramentas mais utilizadas na antiguidade para análise e retenção arquetípica da sociedade, capazes de prover mapas para uma jornada de individuação, além de considerá-los representações de uma camada mais profunda da psique coletiva, em comparativo aos mitos.
A comparação entre conto e mito é de extrema relevância para o trabalho da analista pois nos mitos, há sempre a presença de um herói que vive uma punição por desrespeitar alguma lei divina, com questões claras de moralidade impostas nas histórias. Já nos contos, há a destituição dos aspectos culturais, onde não há a presença de divindades impondo ações sobre as personagens, ou, ao menos, não são tão relevantes - são narrativas folclóricas, expressando os sonhos da alma coletiva. Ainda, nos contos há a intenção oculta em unir o feminino ao masculino, causando uma realização da totalidade psíquica, expressamente representado pelo “(...) e viveram felizes para sempre…”.
Na prática da psicoterapia, seja através da análise convencional junguiana, ou da abordagem arteterapêutica, as imagens dos contos de fada ressurgem como métodos ilustrativos para situações da vida vivenciadas pelos indivíduos, objetivando levar ao paciente uma compreensão maior sobre seu momento presente e o que este pode fazer a respeito do que está vivendo. Neste contexto, os contos, quando analisados, possuem a mesma relevância e tonalidade dos sonhos enquanto métodos a serem interpretados, podendo confirmar, compensar ou curar uma ação consciente, ou inconsciente.
A força do arquétipo na imagem e na narrativa
O conteúdo advindo dos contos de fada, a princípio, podem parecer afastados da realidade, quando considerados em sua literalidade, em especial por compreender uma linguagem diferente da qual a consciência está habituada, tornando a interpretação um processo dificultoso, quando comparados aos mitos. Entretanto, apesar de não haver bruxas, ogros, madrastas e vilões no mundo palpável, no inconsciente essas figuras emergem como arquétipos, em especiais os mencionados, que fazem referência às sombras, medos e conflitos internos.
Desta forma, quando aplicados em contextos psicoterapêuticos, estes arquétipos auxiliam no processo de ensino-aprendizagem do ser humano, atuando como mestres do caminho do destino ao mostrar as direções para a vida. Cada conto de fadas permite a manifestação da psique através da linguagem simbólica e arquetípica, fornecendo uma conexão direta entre o consciente e o inconsciente quando o indivíduo realiza a leitura de alguma dessas narrativas.
Um exemplo desta aplicação, descrito por Marie von Franz em ‘O Feminino nos Contos de Fadas’ (1979), é o arquétipo do Self, associado às figuras do herói e da heroína, atuando como o impulso latente para a produção do ego. Os heróis de uma história são atrelados ao modelo ideal do complexo do ego, representando um modelo comportamental da personalidade consciente, sendo aquele que age em sintonia com os instintos e a totalidade psíquica e, este é um dos principais motivos das crianças se identificarem tanto com estas figuras durante o estágio de formação do ego.
Arteterapia como via de acesso ao mundo interior
A Arteterapia, por contar com uma ampla gama de artifícios terapêuticos que se utilizam da arte, emerge como um campo analítico possível para a escuta simbólica proposta pela literatura, como pesquisado por Marie von Franz. Enquanto os contos de fada oferecem espelhos para os padrões universais do inconsciente coletivo, o processo arteterapêutico é fértil ao proporcionar um espaço acolhedor para que o indivíduo acesse seu interior em busca de aumentar sua autoconsciência.
A criação artística através da manipulação de materiais artísticos, ou mesmo através da leitura de contos e narrativas, consegue exteriorizar o conteúdo do plano psíquico do paciente, muitas vezes inacessível à linguagem verbal consciente, tornando-o mais palpável e fácil de ser analisado, desenvolvendo uma ponte entre o mundo consciente e o inconsciente pessoal e coletivo.
Durante o processo criativo, a Arteterapia se engaja enquanto caminho direto para o mundo particular interior, projetando materialmente as emoções, conflitos, memórias e pensamentos do indivíduo analisado. As imagens, formas e cores advindas das criações arteterapêuticas contam em si um arsenal rico de linguagem simbólica, como a encontrada em contos de fadas ou sonhos. Assim, o arteterapeuta se prontifica, com sua escuta ativa e conhecimento aprofundado em simbolismo e arquétipos, a auxiliar o indivíduo a enxergar sua obra enquanto mapa interno de sua psique.
Além disso, uma pessoa, ao se identificar com um conto, consegue perceber que sua questão não é única, sendo algo que já foi tratado e resolvido de diversas formas ao longo da humanidade, diminuindo a pretensão do ego e colaborando para que o indivíduo se torne mais receptivo aos conteúdos do inconsciente.
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